Para Psicóloga a falta de apoio da sociedade em relação a dependentes químicos dificulta a reabilitação

Criado em: 25/06/2021 13:41:40
Atualizado em: 25/06/2021 13:41:40

     Quando o assunto é Drogas as avaliações sempre trazem divergências de ideias, opiniões e pré-julgamentos. É fato que as substâncias químicas trazem efeitos no corpo, na mente e, porque não dizer, na vida da sociedade de um modo geral. Como qualquer outro lugar, o município de Missal enfrenta diversas questões envolvendo dependência química, dependência de álcool, cigarro, entre outros.

     A psicóloga Mônica Winter Possatto afirma que um dos grandes vilões em relação ao tema é o preconceito, tanto do paciente em admitir que é usuário e dependente, e que necessita de auxílio profissional, mas principalmente o preconceito da sociedade. “Precisamos salientar que cada pessoa é impar e que cada um tem sua própria história, o que não nos cabe julgar”, indica.

     Mônica ainda acrescenta que a falta de apoio da sociedade em relação a esses pacientes é gritante, sendo um dificultador do processo de reabilitação. “Infelizmente estamos vivendo em uma sociedade julgadora e que tem dificuldades em lidar com o que é fora do ‘padrão’ criado como normal”, opina.

     A psicóloga cita ainda que agindo assim, a sociedade acaba tendo um perfil excludente, que vira as costas para pessoas que realmente necessitam de ajuda. “Digo que a falta de informação é o maior erro da nossa sociedade. A partir do momento que passamos a ser detentores de informações e conhecimentos, nos libertamos de certos padrões que nos foram impostos, o que pode tornar a vida mais fácil de ser vivida e o olhar para o próximo de forma mais acolhedora”, completa.

 

Existe alguma pré disposição para se tornar dependente químico?

     Mônica explica que não há genes que identifiquem comprovadamente de forma única e exclusiva a dependência, mas que muitos estudos giram em torno dessa temática e já estão levantando muitas hipóteses.

     “Existem estudos que apontam que a transmissão genética da dependência alcóolica, por exemplo, sofre impactos na personalidade e das reações aos efeitos da droga sentidas pelo indivíduo”, esclarece a profissional.

     Isso significa que é provável que o gene passe por transformações ocasionadas por outros fatores e isso se chama desenvolvimento epigenético.

 

Resistência

     Como já mencionado, o preconceito do próprio paciente que não aceita que precisa de tratamento é fator que dificulta a reabilitação. Nestes casos, a Psicóloga Mônica aponta que o envolvimento familiar é de extrema importância para que um tratamento seja realizado e que tenha sucesso. “Acredito que sempre podemos auxiliar, porém, quando o paciente não aceita ajuda, o processo fica mais difícil e penoso”, lamenta.

     Para ela nas situações onde o paciente não aceita, a abordagem familiar é fundamental. “O vício em drogas é um problema de saúde que não envolve somente o usuário, mas todas as pessoas com quem convive. O meio está doente. Digo que precisamos ir ‘comendo pelas beiradas’ até atingir a pessoa que está com problemas. É um trabalho longo e nem sempre funciona como pensamos, mas a desistência da situação não é uma possibilidade”, pondera.

 

Drogas na Adolescência

     Ao ser questionada se adolescentes e jovens são mais vulneráveis às drogas, seja lícita ou ilícita, Mônica informou que o uso de drogas na juventude torna a pessoa mais vulnerável à dependência química na vida adulta. “Isso porque o cérebro permanece com inúmeros receptores dessas substâncias e também pelo fato da adolescência ser a fase em que são definidos os hábitos que serão levados ao futuro”, emenda.

     A adolescência, por exemplo, é marcada como uma fase que conhecida como fase das tribos, portanto, isso significa que a influência do grupo social é muito forte. “Por isso, as principais campanhas de prevenção e orientação acontecem na infância e na adolescência, já que a curiosidade e influência social ocorrem com mais frequência”, exemplifica.

     A profissional de psicologia informou que possui uma identificação grande em atender o público jovem nos consultórios. “Por que eu realmente acredito que é um dos públicos que mais me desafia e que mais necessita da nossa atenção, tanto profissional, quanto emocional”, pontua.

     “A adolescência é uma fase de transformação, física, emocional, familiar. São conflitos vivenciados, em muitas situações, de forma isolada, o que acaba levando a busca de auxilio e apoio em grupos de amigos”, acentua Mônica. “E vamos lembrar que, o afeto e o acolhimento familiar têm uma potência diferente na vida desse ser em formação”, orienta.

     Ainda sobre adolescentes e jovens Mônica cita o equilíbrio entre limites e afeto, e a necessidade de acolhimento e diálogo. “No momento em que olharmos mais para nossos adolescentes de forma menos preconceituosa, os ‘ganharemos’ de forma mais facilitada. E vamos lembrar que passamos por essa fase. Adolescentes não são PROBLEMA. Adolescentes são pessoas em formação e que merecem respeito e orientação”, finaliza.